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-1ubIJcuGm0_0000.wav | Então, sobre o que eu vou falar um pouquinho pra vocês? |
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-1ubIJcuGm0_0001.wav | Eu vou falar diretamente sobre esta questão da consciência, tentar trazer um pouquinho essa questão do que é, pelo menos a partir da tradição judaica, que é o território onde eu mais funciono... E, já que eu ia ser o primeiro da manhã, eu quis colocar exatamente esta foto aí, que é essa sensação, ainda mais nós aqui, com esse friozinho gaúcho, e contar pra vocês duas histórias. |
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-1ubIJcuGm0_0002.wav | Vou contar algumas histórias, é uma das formas de prática da tradição judaica, de muitas tradições, que é a maneira de a gente, rapidamente, se contextualizar. |
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-1ubIJcuGm0_0003.wav | E a história sempre toca o coração de cada um de uma maneira pessoal e esse pessoal é o que nos engaja. |
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-1ubIJcuGm0_0004.wav | Essas duas histórias são sobre um menino que acorda no meio da noite. |
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-1ubIJcuGm0_0005.wav | Numa primeira história, ele acorda e o pai está estudando. |
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-1ubIJcuGm0_0006.wav | É um sábio, é um rabino. |
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-1ubIJcuGm0_0007.wav | E ele vem ao pai e pergunta pro pai... curioso com a própria experiência de ter acordado, ele pergunta pro pai: "Pai, se existe acordar de estar dormindo, existe acordar de estar acordado?" |
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-1ubIJcuGm0_0008.wav | E o pai responde: "Sim, existe acordar de estar acordado". |
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-1ubIJcuGm0_0009.wav | Na segunda história, todas elas relativas ao despertar, o menino acorda tendo um sonho e ele vai ao pai, que é um sábio, mesma condição, está lá estudando, e ele pergunta ao pai: "Pai, se eu estou no sonho, quando estou dormindo, e agora, como tenho certeza que eu também não estou sonhando?" |
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-1ubIJcuGm0_0010.wav | E o pai diz: "Sempre que você estiver se fazendo essa pergunta, você não está sonhando". |
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-1ubIJcuGm0_0011.wav | Então é um pouco sobre esses dois aspectos, essa ideia de a gente estar desperto, de estar acordado de estar acordado, e essa ideia de a gente saber fazer perguntas que nos colocam lúcidos, que nos colocam num lugar em que a gente não está num delírio ou numa ilusão, num lugar que não é um território desperto. |
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-1ubIJcuGm0_0012.wav | Eu uso isso porque um dos mestres místicos mais importantes da tradição judaica, Reb Nachman de Bratslav, usava uma expressão, em iídiche, que é a expressão "gevalt". |
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-1ubIJcuGm0_0013.wav | E "gevalt" quer dizer uma espécie de: "Uau!" |
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-1ubIJcuGm0_0014.wav | E é uma expressão de a gente acordar, de a gente despertar, de a gente se dar conta que as coisas são de uma maneira diferente do que a gente imaginava. |
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-1ubIJcuGm0_0015.wav | Então vou querer fazer, rapidamente, um passeio com vocês... |
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-1ubIJcuGm0_0016.wav | Na verdade, eu vou voltar pra cá, porque, pra tradição judaica, os grandes despertares acontecem em duas áreas importantes da vida: uma que é a dimensão que a gente chama "emuna", que tem a ver com fé... com graça, fé... e uma outra que se chama "bitachon"; mas eu já volto, porque quero terminar com elas. |
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-1ubIJcuGm0_0017.wav | E quero ir com vocês, pensar rapidamente, um pouquinho, nesses lugares da gente despertar, só pra gente fazer um exercício, e depois eu volto pra esse lugar que é, pra tradição judaica, e acho que em outras tradições, com outros nomes ou com outros olhares, o grande despertar que todos nós temos que realizar. |
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-1ubIJcuGm0_0018.wav | Eu vou rapidamente fazer um passeio por três áreas muito comuns pra gente, porque talvez esses sejam os territórios mais simples ou mais básicos da vida da gente, que é o território que a gente sempre usa acoplado aos verbos, que são os nossos pronomes. |
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-1ubIJcuGm0_0019.wav | O lugar do "eu", como a gente desperta um pouquinho nesse lugar do eu, como a gente desperta nesse lugar do nós, e como a gente desperta no lugar do tu. |
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-1ubIJcuGm0_0020.wav | Tu é perfeito pra cá. |
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-1ubIJcuGm0_0021.wav | Pro Rio é você; aqui é tu, mesmo. |
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-1ubIJcuGm0_0022.wav | Vou trabalhar o eu como um lugar que tem a ver com a consciência da existência; a nossa passagem do tempo, que é onde a gente elabora esse território mais. |
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-1ubIJcuGm0_0023.wav | Depois nós, não mais o tempo, mas o espaço; assim como a gente está agora aqui, dividindo esse espaço, e dividimos tantos espaços aí, em outros lugares, na cidadania e tanto mais. |
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-1ubIJcuGm0_0024.wav | E o tu, que tem a ver com essa outra dimensão da nossa consciência, que é onde a gente descobre que a gente está certo ou errado. |
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-1ubIJcuGm0_0025.wav | O outro é sempre a medida da nossa liberdade, a medida em que a gente escuta uma fala diferente, etc. |
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-1ubIJcuGm0_0026.wav | E eu vou querer rapidamente olhar esses territórios, pra gente pensar o que é acordar, um pouquinho, e despertar um pouquinho nesses territórios. |
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-1ubIJcuGm0_0027.wav | Então, primeiro, essa relação nossa com a existência e com o tempo, em que, muitas vezes, a gente racionalmente tem que ir pra esse lugar. |
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-1ubIJcuGm0_0028.wav | Mas acho essas duas histórias contemplam bem o lugar de estar acordado no tempo. |
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-1ubIJcuGm0_0029.wav | Esta primeira história acho tem origem persa, é dessas regiões onde eles fazem esses tapetes inacreditáveis, que são tapetes que levam décadas, às vezes, pra serem realizados, e em que uma pessoa vai visitar um desses artesãos e vê esse artesão ainda no meio do trabalho e pergunta pra ele: "Você não tem medo de não conseguir concluir este trabalho?" |
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-1ubIJcuGm0_0030.wav | E o artesão responde: "Não, mas não tenho medo de não concluir, porque eu não o comecei". |
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-1ubIJcuGm0_0031.wav | Este é um marco, um parâmetro pra nós. |
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-1ubIJcuGm0_0032.wav | O outro, uma história clássica lá do Meio Oriente, onde você tem um senhor de idade já plantando um cedro e vem uma pessoa e pergunta: "Por que você está plantando um cedro? |
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-1ubIJcuGm0_0033.wav | Porque esse cedro leva muitos anos pra crescer. |
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-1ubIJcuGm0_0034.wav | Até poder usufruir da sombra desta árvore, talvez você não esteja aqui". |
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-1ubIJcuGm0_0035.wav | E ele fala alguma coisa semelhante, e ele diz: "Sim, mas meus antepassados plantaram cedros pra mim, e eu estou realizando a mesma coisa". |
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-1ubIJcuGm0_0036.wav | Assim, por um lado é o despertar de uma relação nossa com a própria existência, com nossa própria finitude, em que a gente se descobre desperto, não iniciando nada nem concluindo quando a gente termina, de a gente estar de alguma forma referenciado de outra maneira. |
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-1ubIJcuGm0_0037.wav | É o que na tradição judaica, na "Ética dos Pais", a ética dos ancestrais, por assim dizer, é um livro só sobre despertares, tentativas de deixar um legado dos ancestrais pra que as pessoas acordem e que elas possam não ficar adormecidas durante sua vida, e isso diz: você não tem que terminar nenhum trabalho. |
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-1ubIJcuGm0_0038.wav | A vida não tem nada a ver com conclusão de nada. |
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-1ubIJcuGm0_0039.wav | Ao mesmo tempo, você não tem como se eximir da responsabilidade de fazer as coisas, de trabalhar. |
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-1ubIJcuGm0_0040.wav | Esse é um parâmetro de desperto muito interessante de a gente se ver como parte de um processo em que a gente não tem que terminar nem vai terminar nada, mas que a gente tem uma responsabilidade enorme de estar aí participando e aperfeiçoando durante a nossa existência. |
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-1ubIJcuGm0_0041.wav | E essa relação com o caminho, que é uma relação sempre tão difícil. |
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-1ubIJcuGm0_0042.wav | Eu botei aqui uma sobremesa, porque talvez o lugar da alimentação é sempre o lugar mais direto pra todos nós. |
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-1ubIJcuGm0_0043.wav | E, quando a gente é criança, uma das grandes brigas da vida da gente é a gente querer comer a sobremesa e não ter que passar por todos os outros pratos. |
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-1ubIJcuGm0_0044.wav | Essa é uma briga que nós fazemos a vida inteira, como adultos. |
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-1ubIJcuGm0_0045.wav | A gente está sempre querendo chegar na sobremesa. |
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-1ubIJcuGm0_0046.wav | A gente está sempre querendo viver os processos da vida de forma adormecida. |
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-1ubIJcuGm0_0047.wav | Então a gente vai ao supermercado fazer uma compra, e a gente já constrói a nossa vida, que é uma maneira mais fácil pra gente controlar as coisas, "Vou ao supermercado", e a gente vai ao supermercado sem estar acordado, sem estar se relacionando com as coisas que vão acontecendo pelo caminho, pelos sentimentos que a gente vai tendo, pelos vínculos que a gente vai fazendo, porque a gente está sempre construindo a nossa vida de chegar nesse lugar final. |
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-1ubIJcuGm0_0048.wav | E a grande descoberta da sobremesa, que é, na verdade - estávamos conversando há pouco sobre a gastronomia - que é a capacidade de ensinar, neste lugar que é tão animal, em todos nós, tão reptiliano que é o estômago, de poder usufruir toda essa caminhada nutricional da comida. |
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-1ubIJcuGm0_0049.wav | E a gente às vezes se esquece. |
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-1ubIJcuGm0_0050.wav | Porque o que é uma sobremesa? |
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-1ubIJcuGm0_0051.wav | A sobremesa é a parte da comida que a gente come quando a gente já não tem mais fome. |
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-1ubIJcuGm0_0052.wav | É o lugar da maturidade da nossa experiência gastronômica. |
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-1ubIJcuGm0_0053.wav | Porque a gente senta à mesa morrendo de fome. |
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-1ubIJcuGm0_0054.wav | E se a gente for comer a sobremesa na hora em que a gente está com fome, a gente vai fazer uma coisa totalmente equivocada; caloricamente e no sentido, também, daquela experiência. |
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-1ubIJcuGm0_0055.wav | Então a gravidade de a gente estar sempre querendo produzir esse efeito da sobremesa, esse efeito infantil de todos nós, é que a gente acaba saboreando uma coisa que tem a ver com maturidade, com estar desperto, num lugar de fome, num lugar totalmente equivocado. |
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-1ubIJcuGm0_0056.wav | Então este é um lugar pra gente trabalhar um pouco o nosso eu. |
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-1ubIJcuGm0_0057.wav | O nós. |
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-1ubIJcuGm0_0058.wav | Eu trago esta breve história do talmude, do Baba Bathra, que é um dos tratados, que conta sobre um homem que estava tirando pedras do seu terreno e colocando no meio da rua, e passa um sábio e diz pra ele: "Por que você está jogando essas pedras fora, de um terreno que não é teu, pra um terreno que é teu?" |
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-1ubIJcuGm0_0059.wav | E ele ri desse homem, não entende do que ele está falando. |
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-1ubIJcuGm0_0060.wav | Passam alguns meses, ele vende esse terreno, e um dia ele está andando, tropeça nas pedras e se dá conta: "Uau! |
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-1ubIJcuGm0_0061.wav | Como era sábio esse homem que me disse que eu estava tirando do terreno que não era meu e colocando no terreno que era meu". |
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-1ubIJcuGm0_0062.wav | Esse é o lugar desperto, tão, tão na contramão do que a gente imagina. |
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-1ubIJcuGm0_0063.wav | Tudo que é do nós, tudo que tem a ver com o público é muito mais nosso do que aquilo que é privado e particular. |
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-1ubIJcuGm0_0064.wav | E tem que despertar pra enxergar isso, não é uma coisa muito simples. |
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-1ubIJcuGm0_0065.wav | Por último, o tu, que é a nossa relação com o outro, com o que o outro pensa, que tem uma função muito importante pra nos ensinar um pouquinho sobre a vida, sobre a realidade, de forma despertada, que é a possibilidade. |
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-1ubIJcuGm0_0066.wav | Conto pra vocês uma história, um rabino que recebe dois indivíduos num litígio. |
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-1ubIJcuGm0_0067.wav | Eles estão brigando por terras, por demarcação de terras. |
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-1ubIJcuGm0_0068.wav | Ele escuta a fala de um dos que estão em litígio e, ao término, balança a cabeça, concordando e diz: "Você tem razão". |
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-1ubIJcuGm0_0069.wav | Logo depois, ele ouve o outro indivíduo, que traz os argumentos dele, e esse indivíduo também apresenta de maneira contundente ali a opinião dele, o rabino balança a cabeça e diz: "Você está certo". |
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-1ubIJcuGm0_0070.wav | E o secretário, que estava ali observando tudo isso, e vendo o rabino naquele lugar de arbítrio, de juiz, tendo dito que um está certo e o outro está certo, esse secretário diz: "Rabino, por favor, eles vieram aqui pra decidir um litígio. |
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-1ubIJcuGm0_0071.wav | Como o senhor diz que este está certo e que este está certo também?" |
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-1ubIJcuGm0_0072.wav | E o rabino olha pra ele e diz: "É, você está certo". |
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-1ubIJcuGm0_0073.wav | (Risos) Porque uma das coisas mais incríveis de a gente estar desperto e consciente é o fato de que não existe certo e errado. |
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-1ubIJcuGm0_0074.wav | Existem certos e errados, mas não necessariamente você tendo um certo tudo mais é o errado. |
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-1ubIJcuGm0_0075.wav | A descoberta, a capacidade da gente conter outras narrativas, que são as narrativas do outro, do outro olhar, isso produz em nós uma capacidade de lidar com o paradoxal e termos na nossa própria cabeça dois certos, três certos, quantos forem necessários, pra que a gente possa estar verdadeiramente desperto. |
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-1ubIJcuGm0_0076.wav | Então, realmente, rapidamente passando por todas essas questões que são pra gente decodificar ou digerir pela vida afora, eu queria, rapidamente, nos poucos momentos que me restam aqui, antes de a minha finitude determinar o meu desaparecimento... (Risos) Mas eu não tenho que terminar, eu só tenho que cumprir esses 18 minutos. |
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-1ubIJcuGm0_0077.wav | Esses dois lugares aqui são dois lugares muito impressionantes. |
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-1ubIJcuGm0_0078.wav | Nós todos, pra estarmos despertos, precisamos saber que a gente vive num mundo em que a gente não controla as coisas. |
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-1ubIJcuGm0_0079.wav | Daí o lugar da fé. |
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-1ubIJcuGm0_0080.wav | E a palavra graça tem a ver com fé. |
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-1ubIJcuGm0_0081.wav | Porque as coisas que a gente faz nem sempre vão dar certo, vamos ter controle e dar certo. |
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-1ubIJcuGm0_0082.wav | E todos nós temos que estar despertos de tal maneira, que a gente consiga trocar os grandes problemas da gente, que são as nossas compulsões, nossos hábitos, nossos vícios do passado, e, em relação ao futuro, os nossos medos. |
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-1ubIJcuGm0_0083.wav | Se a gente ficar engolido pelas nossas compulsões, pelos nossos hábitos e pelos nossos medos, a gente nunca vai ter a graça de não perder a graça quando as coisas não acontecem como a gente espera. |
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-1ubIJcuGm0_0084.wav | E as coisas não acontecem como a gente espera, porque essa é parte da realidade de não controle em que a gente está imerso. |
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-1ubIJcuGm0_0085.wav | E esta segunda aqui, que é o lugar da gente ter confiança, fé, de acreditar numa coisa que... |
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-1ubIJcuGm0_0086.wav | Os americanos usam uma expressão muito bonita, que diz: "Muito mais do que o bezerro quer mamar, a vaca quer dar o leite". |
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-1ubIJcuGm0_0087.wav | Nós estamos imersos, também, num universo que, às vezes, não desperto, a gente não reconhece. |
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-1ubIJcuGm0_0088.wav | Conto pra vocês uma coisa: estou saindo daqui correndo de volta pro Rio, pra um almoço na casa do Luciano Huck, que está celebrando eles terem se salvado de um acidente aéreo um ano atrás. |
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-1ubIJcuGm0_0089.wav | Nesta semana, uma pessoa que é diretora da pediatria do INCA, do Instituto Nacional do Câncer no Rio de Janeiro, me ligou e disse: "Nilton, você consegue um contato com o Luciano? |
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-1ubIJcuGm0_0090.wav | A gente está fazendo uma reforma, e precisamos da força dele pra levantar fundos". |
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-1ubIJcuGm0_0091.wav | Eu disse: "Vou tentar". |
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-1ubIJcuGm0_0092.wav | Desliguei o telefone, toca o telefone, é o Luciano. |
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-1ubIJcuGm0_0093.wav | Tocou na hora. |
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-1ubIJcuGm0_0094.wav | Eu disse: "Luciano?" |
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-1ubIJcuGm0_0095.wav | Ele disse: "É..." E ele: "Eu queria te pedir um favor". |
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-1ubIJcuGm0_0096.wav | Eu disse: "Sim?" |
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-1ubIJcuGm0_0097.wav | "Eu vou fazer uma semana aqui só de coisas de gratidão e queria ajudar, de alguma forma. |
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-1ubIJcuGm0_0098.wav | Você tem alguma ideia de alguma coisa que eu possa fazer pra ajudar e celebrar este momento?" |
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-1ubIJcuGm0_0099.wav | (Aplausos) Eu disse: "Tenho uma ideia". |
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